projetos para abrigos no deserto
Por Juliana Monachesi
O que acontece depois que tudo é destruído? Esta era a pergunta que rondava os pensamentos da artista na sequência da série de colagens Invasões (2011), que retrata sobrados antigos e outras construções invadidos por raízes num mundo pós-apocalíptico. A “invasões” desdobraram-se em instalações site specific concebidas para museus e centros culturais, onde os galhos e raízes se espalhavam pelo piso e as paredes, denunciando a artificialidade do que havia dentro das instituições de arte face à natureza ignorada do lado de fora. Na narrativa distópica da obra engajada de Helen Faganello, ocorreu um extermínio ficcional mútuo: a natureza venceu a civilização, mas quando esta já havia inviabilizado a existência da biodiversidade. O que acontece depois que tudo é destruído? O deserto. Os desenhos da série Projetos para Abrigos no Deserto (2012-2015) são um esforço de imaginação adaptativa. Sob a condição inóspita do calor e da seca, das constantes tempestades de areia, como viveriam os poucos seres humanos que restaram e conseguiram, por meio de mutações genéticas e ao longo de milhares de anos, se adaptar ao novo e desfavorável habitat? Em abrigos no deserto. Nos Projetos para Abrigos, cidades emergem sobre pilotis altíssimos. “Porque a paisagem se move constantemente, mas as cidades precisam permanecer no lugar”, explica a artista. Erigidas com os elementos mais básicos – tijolo e vidro –, as edificações contam ainda com pequenas hortas constituídas de cactos, espadas de São Jorge e outras poucas plantas resistentes ao clima desértico. Para observação dos perigos no exterior, os abrigos têm periscópios, tanto no alto, como rasteiros. Os desenhos, assim como a maquete, nos falam de um mundo arrasado e distópico, em que, entretanto, existe um resquício de esperança e de bom humor.